REVISTA ALTERNATIVA: JAPONÊS MANEIRO

No final do ano passado, eu tive o prazer de ter sido convidado para assinar uma coluna só minha na revista ALTERNATIVA, a melhor revista gratuita que há em português hoje no Japão, distribuída para todo o país. Para mim que já era leitor da revista há anos e gostando de escrever como eu gosto, foi uma honra. A coluna JAPONÊS MANEIRO estreou este ano e graças a Buda tem sido um sucesso! A intenção é mostrar o lado maneiro do idioma, mostrar curiosidades, fatos interessantes e dar dicas única e exclusivamente sobre a língua japonesa. Gostaria que através da coluna, muitas pessoas pudessem se animar a aprender o idioma e perceberem o quanto é bom saber japonês. E para os leitores do Muito Japão que não vivem no arquipélago, uma novidade: a coluna será publicada aqui mesmo no blog e você confere a primeira coluna AGORA!  




Você já ouviu falar em estrangeirismo?

Se você pensou que é alguma coisa a ver com ”gaijin” ou “estrangeiro”, você passou perto! Estrangeirismo é quando palavras de origens estrangeiras são introduzidas em um idioma. Em japonês, chama-se 外来語, gairaigo, ou seja, “de fora”+”vir”+”palavra”. Simples, não?!
Na nossa língua, alguns estrangeirismos são tão incorporados que muita gente nem percebe. “Abajur”, “almofada”, “batom”, são todas palavras “emprestadas” de outros idiomas! Talvez, se eu disser “sushi” ou “hashi” fica mais fácil perceber que se tratam de palavras de origem japonesa que foram introduzidas no português, não é mesmo? Mas uma coisa devemos tomar muito cuidado! É que não são raros os exemplos de palavras que quando passam de uma língua para outra, mudam a forma e muitas vezes até o sentindo original.
A palavra “quimono”, por exemplo. Pergunte a um brasileiro o que um lutador de judô veste para lutar e ele terá a resposta da ponta da língua: Quimono! Mas se a mesma pergunta for feita a um japonês, a resposta não será a mesma! Mas como se “quimono” é uma palavra japonesa? Pois é. “Quimono” é uma palavra japonesa, mas é também um exemplo de estrangeirismo que mudou o seu sentido primeiro ao ser incorporado ao português. A palavra “quimono” em japonês é formada por dois ideogramas: 着物 que seriam “vestir”+”coisa”.
Mas o “quimono de judô” para os japoneses, não se chama “quimono”. A vestimenta tem outro nome: 柔道着・じゅうどうぎ・juudougi. E se for para aikidô? Simples: 合気道着・あいきどうぎ・aikidougi. Reparem que o primeiro ideograma de KIMONO, 着(KI), está também nas palavras usadas pelos japoneses para “quimono de judô” e “quimono de aikidô”! É aí que está o sentido de “roupa”, “vestimenta” usada para o respectivo esporte!   
Aliás, dia desses, um brasileiro, conhecido meu, me perguntou se eu tinha ido ao “concerto do Monobloco”. Achei engraçada a combinação de “concerto” com “Monobloco”. Primeiro eu pensei: “Nada a ver um com o outro!” e depois fiquei imaginando como seria um concerto com a participação do Monobloco? Não sei, mas quando alguém fala em português “concerto”, para mim, vem logo a imagem de música clássica, erudita, pianos, orquestras e afins, o que, convenhamos, passa longe do estilo do Monobloco! Mas, logo percebi que meu colega estava sendo influenciado pela língua japonesa! Pois em japonês, existe a palavra コンサート・konsaato, que em português poderia ser traduzido como “concerto”, “show”. Aliás, em português também não está errado usar a palavra “concerto”, pois nós usamos, com influência do inglês, “concerto de rock”, por exemplo. Mas, em todo caso, acho que seria melhor dizer “show do Monoblobo”, “show do Caetano Veloso” etc e deixar o “concerto” para a orquestra filarmônica ou mesmo um concerto de piano.
E para terminar um lembrete! Não confunda スタジオ・SUTAJIO com スタジアム・SUTAJIAMU. Em português, スタジオ・SUTAJIO é “estúdio” e スタジアム・SUTAJIAMU é “estádio”!  Até a próxima!

Comentários

  1. Olá,Caruso,gostaria que mostrasse um pouco mais da cultura japonesa,relatando o que é feito com os ainos,os burakumins e coreanos,que estão à margem da sociedade,não tem direitos básicos,são menosprezados,para termos uma noção de como é a discriminação no Japão.Pesquisei e li uma entrevista de que há três tipos de pessoas discriminadas na classe inferior permanente do Japão: os ainos, os burakumin e os coreanos. Um abraço,amigo

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  2. F.Silva,

    Agradeço a visita ao blog e a sugestão, mas confesso que muito pouco entendo sobre o assunto. Tbm já ouvi falar sobre estes grupos, mas em 10 anos de Japão, nunca presenciei ou vivenciei nada parecido, por simplesmente nunca ter encontrado ninguém pertencente a estes grupos. Coreanos, sim, eu conheço alguns. Porém, nunca chegamos a conversar sobre o assunto, mas acredito eu que a discriminação que sofre o coreano, talvez, em parte, seja a mesma que sofremos nós estrangeiros no Japão de uma forma geral. Claro que deve haver os que sofrem devido a fatos históricos envolvendo povos asiáticos, mas neste caso tampouco, eu tenho experiência ou mesmo conhecimento suficiente para comentar sobre.

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  3. Curiosidade: em Portugal não se usa a palavra "show" para esse tipo de eventos. É sempre concerto.

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