Carnaval no Japão

Dia 29 deste mês será realizado o famoso Carnaval de Asakusa!! O evento atrai turistas e japoneses, que lotam a avenida principal que passa bem em frente do Kaminarimon, para assistir ao desfile das escolas de samba e grupos japoneses. Mas espere! Um conselho de amigo: se você for assistir, não vá esperando ver algo relacionado com o Brasil e por favor, muito menos, relacionado com o Rio de Janeiro. Não! Não é minha intenção esculachar o evento, aliás trata-se de um evento que já é realizado há 30 anos no Japão e que envolve muitos profissionais. Como evento cultural, de intercâmbio e tal, acho até maneiro. É ótimo principalmente para sair da rotina e principalmente, o que mais me deixa feliz, é ver tantos japoneses que admiram o Brasil e nossa cultura. Nesse ponto, é maneiro. Mas depois que você vê elementos Muito Japão entranhados no carnaval de Asakusa, que tinha tudo para ser divertido, animado e contagiante, confesso ser um tanto...digamos, brochante. Lembro que no primeiro ano que fui assistir, não vi quase nada do desfile. O pouco que vi foi através das imagens que eu captava com minha câmera digital. Como assim? Simplesmente eu, sem ver nada, levantava meu braço, esticava ao máximo e tirava fotos e depois eu mesmo via na hora. Isso porque as calçadas da avenida principal simplesmente lotam, abarrotam, bota gente pelo ladrão!! Se você não madruga, como acredito que muita gente deve fazer para garantir lugar, você só consegue ver o cocoroco dos carros alegóricos mais ausados, isto é, com uma certa altura. Fora isso, esquece! Obviamente, não há muros que separam a rua da calçada, mas se você chega um pouco antes do início do desfile, sua visão de raio x deverá atravessar três barreiras: dos velhinhos que madrugam e ficam sentados em esteiras que forram uma faixa na rua rente ao meio-fio (foto).


Atrás deles ficam os fotógrafos que, no cúmulo da cara de pau, armam suas escadinhas e minipalanques e lá ficam a postos e intactos apontando as bazucas, vulgo lentes, até o final do desfile. Atrás deles ainda vem o paredão de pessoas que se colocam de pé sem a menor cerimônia e ali ficam plantadas. Atrás destes, vem o grupo dos esperançosos insistentes, ou seja, aquelas pessoas que ficam de pé, mas se movimentando tentando achar uma brecha para ver o desfile, como quem tenta ver por uma cerca a vizinha gostosa tomando banho de sol na piscina da casa ao lado. E ainda atrás destes, vem a correnteza! O rio de pessoas que seguem len...ta...men...te em direção ao nada, como tartarugas que parecem estar se encaminhando para areia para desovar. Lembro que para mim foi um choque cultural ver por exemplo, em pleno clima de festa, de carnaval, um guardinha, pedindo para que um pai descesse o próprio filho dos ombros!!! Isso mesmo!! O guarda, usando um megafone, mandou o menino descer dos ombros do próprio pai!

O DESFILE


O mais maneiro do desfile é a clara alegria de algumas pessoas – somente algumas – extremamente felizes por estarem ali naquele momento. Ver que também estão de alguma forma mostrando seu amor, sua fascinação pela nossa cultura também é gostoso de ver. Mas algumas coisas deixam claro que se trata de um evento organizado por estrangeiros, ou melhor, por japoneses e que são japoneses que estão se apresentando no Japão! Se eu dissesse que o carnaval de Asakusa em nada lembra o carnaval do Brasil eu estaria mentindo, até porque no meio têm muitos profissionais, sejam eles instrumentistas, sambistas, passistas etc. Mas também tem muita gente que parece não estar sentindo o menor prazer de estar ali ou pelo menos não demonstra alegria tal como a gente vê estampada nos rostos de todos que atravessam a verdadeira Marquês de Sapucaí. Foi triste ver por exemplo, na frente de cada escola, escoteiros-mirins com meias esticadas até o joelho e com “face de ânus”, carregando uma plaquinha com o nome da escola. Também não gostei de ver tantas alas com coreografias. Tudo bem que no Brasil também tem alas com coreografias, principalmente, a comissão de frente, mas não um montão de alas, uma atrás da outra, com coreografias. Tudo bem que tenha coreografia, mas que façam com emoção! As que eu vi, os carinhas mas parecem coelhinhos em comercial de pilhas Duracel! Tudo igualzinho! Até o desânimo da ala é uniforme!! Parece que treinam, treinam, treinam e no dia vestem a roupa e o mais importante é não errar em nada. Sorriso no rosto, não importa! Animação e alegria de pular carnaval não fazem parte!



As passistas japonesas....pelo amor dos meus filhinhos. Nada contra japonesas, muito menos com pouca roupa, mas não é a mesma coisa! Japonesas branquinhas, com falta de carne nas coxas, com botas de paquitas prateadas ou douradas até o joelho e a meia-calça cor de chocolate e passando pelo biquíni e quase tocando o umbigo é triste ver. As brasileiras, 100% produto nacional, se destacam. O samba no pé eu não vou nem falar, mas a paixão, o prazer, o sorriso natural, o charme, a sensualidade - e põe sensualidade nisso - com uma roupa de passista linda que parece ter sido feita só para ela usar naquele dia, ajudam a lembrar que o evento tem um pouco de Brasil também! Para você ter uma ideia do que estou falando e para quem ainda não me conhece, aí vai uma foto!

É como ver no Brasil, uma brasileira sem ascendência japonesa, na porta de um restaurante japonês, vestida de yukata e com dois hashis fincados no coque!! Gostei do que um japonês, integrante da bateria da Bárbaros, uma das escolas mais influentes do carnaval de Asakusa, me disse. Ele me contou que adora o ritmo do samba e acha o desfile do Rio de Janeiro, realmente um espetáculo, mas segundo ele, ele sai no carnaval de Asakusa, não para imitar o carnaval do Rio, mas sim para curtir o momento da festa onde ele pode tocar o instrumento dele e encontrar amigos que compartilham do mesmo hobby. “Nem tem como comparar”, disse. (...e eu concordo!). Para finalizar eu diria que o mais Muito Japão do carnaval de Asakusa é o que aconteceu logo, mas bem logo, depois do desfile. Segundos depois do desfile! Quando vai passando a última escola, uma equipe de trocentos homens e mulheres com caras amarradas, se espalham pela avenida para catar os lixos, desmontar as cercas de proteções, varrer a rua e expulsar os espectadores da rua. Tudo ao mesmo tempo e cronometrado!! Tudo porque, assim que o último integrante da última escola cruza o ponto de chegada, a rua, principal do bairro, já reabre nor-mal-men-te !!! CINCO minutos depois, não sobra nem vestígio de que por ali passaram trocentas pessoas fantasiadas, dançando e cantando para celebrar o carnaval!!! É impressionante!



PALAVRA DO DIA:
笑顔・egao・SORRISO


FOTOS: Ewerthon Tobace

Comentários

  1. Oi Interessante, mas com certeza não seria igual sempre acontece essas misturebas, envolvendo as culturas ainda mais sendo eles q organizam, mas acredito q deva ser um bom divertimento.
    abraços

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  2. Então Caruso, compensa ou não compensa sair daqui de Gunma para ver o Carnaval de Asakusa?

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  3. Então Caruso, compensa ou não compensa sair daqui de Gunma para ver o Carnaval de Asakusa?

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  4. Se joga no sambão!!!!!!

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  5. Realmente é um carnaval um pouco diferente, mas é interessante e, já respondendo a pergunta do Kenji (sem querer ser intrometido), acho que vale sim a pena ver pelo menos uma vez na vida. Mas como disse o Caruso, é preciso chegar cedo ou não vai ver nada mesmo...

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  6. Morri de rir. Pessoalmente acho que você ficou super estressado com esse Carnaval. Fiquei tão abalada de ver uma vez um Carnaval em Rotterdam ano atras que não posso nem ouvir falar nem ver propaganda do evento. Meia dúzia de gatos pingados do Suriname e das Antilhas com aquela musiquinha irritante e mole do Caribe (tlim-tlim-tlim !) e eles dizendo que era samba brasileiro. Uma amiga holandesa do meu marido ainda perguntou toda orgulhosa: "os organizadores conseguiram fazer um Carnaval igual ao Brasil, ne ?!" Quase chamei ela de Pedro Bo' ! Como ousam. Fala serio, Carnaval so no Brasil, deveria ter copy right, direitos autorais, sei la ! O resto e' tremenda enganacao.

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  7. Ei, tudo bem por aí? Acabei de saber do terremoto no Japão e imediatamente pensei em você... Faz tempo que não comento, mas sempre apareço por aqui. Fique bem e poste notícias! Abraços!

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  8. Também morri de rir ao ler o texto. divertidíssimo. Parabén Caruso.

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  9. Eu sou do Rio de Japneiro e pasmem, detesto carnaval. Esta coisa de ser mais autentico ou não vai da pessoa.
    Cada país organiza o carnaval como bem entende. E não gosto do carnaval brasileiro mas faço questão de assistir os da Itália que tem uma histório muito mais longa.
    Outra coisa, os brasileiros tem que parar de se gabar que tem o melhor carnaval, o melhor futebol etc.. isso não traz prosperidade alguma para o nosso país.
    Gostaria mesmo é que o nosso país fosse conhecido por ser um país seguro, com bons niveis de educação, onde não houvesse desigualdade social.
    Quando isso se tornar realidade, quem sabe a palavra "carnaval" deixe de ser sinonimo de bagunça.
    Espero que o amigo Caruso seja imparcial e poste esta mensagem!

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  10. Anonimo: eu não gosto nem um tiquinho de Carnaval. Por isso mesmo e' que so deveria existir no Brasil.

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  11. PARA TALIESIN, Bom divertimento é sim. Ainda mais como eu falei, sendo um evento para sair da realidade e para ouvir um sambinha e ver gente fantasiada...é maneiro! Valeu pelo seu comentário! Volte mais vezes!

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  12. PARA KENJI, Acho que em Gunma tem um evento parecido não? Bom, se você é fã do carnaval do Rio de Janeiro ou de São Paulo e está morrendo de saudade de assistir ao desfile das escolas de samba do grupo especial do Brasil, acho que não vale a pena...mas se vc tiver outro compromisso e quiser ver algo diferente, acho que vale (risos). Abração!

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  13. PARA SILVIA,
    Vou pensar no seu caso...rs. Beijão Sil!

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  14. PARA ANITA, Eu imagino! Não tenho dúvidas de que deva haver japonês que tbm acha que está vendo o carnaval igual ao do Brasil ao ir à Asakusa! Mas felizmente, os japoneses que eu conheço e que já foram ao Brasil, sabem muito bem que é beeeem diferente. Essa dos direitos autorais achei maneiro (risos)! Valeu pelo comentário! Sucesso ae na Holanda!

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  15. PARA CESAR AL'BAN, Puxa Cesar, valeu mesmo! Foi só um despertador...mais do que um susto propriamente dito...rs. Estou bem! Abração! Não esquenta em comentar sempre não. Se você está gostando do blog, para mim é o que basta! Abração - parte II!

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  16. PARA CÁSSIA DIAS, Que bom! Fico feliz em saber disso. Espero que volte mais vezes! Valeu pelo comentário!

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  17. PARA CARO AMIGO ANÔNIMO, Claro que eu vou publicar. Não vejo o porquê de não publicar só pq sua opinião se difere da minha. O que eu particularmente não gosto é quando algum leitor me obriga a pensar da mesma maneira que ele. Esse sim, normalmente eu recuso. Mas opinões diferentes, eu não me importo. Na verdade, até gosto. Assim como você prefere o Carnaval da Itália ao do Brasil, eu prefiro mesmo o do Brasil ao do Japão. De outros países eu não conheço. Em comparação do carnaval do Japão e do Brasil, na MINHA opinião, o do Brasil dá de 1000 x 0! Mas se você prefere o da Itália, eu só posso respeitar sua opinião. Tbm gostaria que o nosso país fosse conhecido por ser um país seguro, com bons niveis de educação, onde não houvesse desigualdade social. Mas acho que isso já é outro assunto, diferente de uma manifestação cultural. Mas valeu pelo comentário. Sempre que quiser, é só escrever. Lembrando que você não precisa concordar comigo. É só não me obrigar a pensar igual! Aí, tá blz! Até a próxima!

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  18. Hahahahahaha...
    Meu caro, acho que oq vale é o esforço que eles fizeram e dar boas risadas!
    Você por um acaso, sem pré-conceitos, já foi numa parada gay que não seja a de São Paulo!?
    Há uns 2 anos eu fui, em Belém-PA, simplesmente me acabei de rir. Não do movimento em si, mas das figuras que apareceram nas escadas do hotel.
    Acho que se você estiver com uma boa companhia, vale a pena rir um pouco!!!

    Abraços e adorei a matéria... Me acabei de rir. Parabéns!!!

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