TREMOR DE ANIVERSÁRIO?!

"Logo hoje...". Foi o que mais se ouviu depois do terremoto de 7.1 que atingiu Fukushima agora no cair da tarde. Eu estava no trabalho. Detalhe: sétimo andar. Parecia tudo normal exceto pelo tempo nublado, ou melhor, pelo tempo feio, cinza e que mostrava que iria chover feio durante a noite. Uma colega do trabalho chegou a comentar que era assim que o tempo estava no dia 11 do mês passado.

Estava tudo muito bom, tudo muito bem, quando o meu celular tocou o alarme de terremoto. Nós ouvimos, mas ninguém se levantou ou entrou em pânico porque essa combinação de alarme e tremores já faz parte da nossa vida. O máximo que algumas pessoas fazem é perguntar onde foi o epicentro e qual a intensidade. mas nada mais de pânico. Algumas pessoas até se irritam com alarme pq dizem que só o alarme em si já causa uma certa aflição.

Mas desta vez o tremor parecia ser diferente. Quando todos sentiram que estava tremendo por muito mais tempo que os tremores nossos de cada dia, ninguém mais relaxou. Ficaram todos sérios, em silêncio e, a primeira reação foi um olhar para a cara do outro como quem dizia em um idioma comum: "Está demorando não está? É impressão minha ou está ficando mais forte? Ah não...será que vamos passar tudo de novo?!"...

...e enquanto nos olhávamos o treme-treme continuava até que ficou mais forte e tremia cada vez mais. As coisas no escritório já mexiam fazendo barulho e algumas pessoas já tinham se enfiado debaixo da mesa, enquanto outras - como eu - já estavam se vestindo como quem está atrasado para sair de casa e cataram suas bolsas e, deixando computador ligado e tarefas diárias para trás, seguiram em direção à única porta de saída. Os mais calmos procuravam simplesmente acalmar a situação e diziam: "Pronto! Passou!", "Pronto! Está fraco agora...". Mas mesmo esses, estavam de pé diante de suas mesas.  As pessoas continuam embaixo da mesa e outras - como eu - de pé, longe da sua mesa e vestido já para ir embora e mais próximo da porta.

Até que parou. Parou digo, mais ou menos. Porque ficava balançando lentamente. Tanto que as pessoas procuravam confirmar: まだ揺れてるよね?/ "Ainda está balançando né?". Faltava pouco mais de 1 hora para encerrarmos o expediente, mas mesmo depois de termos todos voltado ao lugar, ninguém mais conseguiu fazer o trabalho com calma e todos procuravam informações na internet de onde e como havia sido o terremoto, epicentro e afins, enquanto outros, insistiam em querer usar o celular...mas nada...já não conectava mais...SMS tbm não ia...

A preocupação agora era primeiro se haveria outro terremoto em seguida e depois, como voltaríamos para nossas casas. Tinha gente já preocupada em ter que fazer o mesmo percurso da outra vez e chegar em casa de pois de caminhar por ruas e ruas por cerca de 5 horas ou mais.

Todos buscavam informações sobre suas linhas de trem. A minha parecia estar bem. Mas não estava. Deu a hora, e saímos todos e o assunto foi só esse. "Logo hoje...", diziam uns aos outros do mesmo andar e até com funcionários dos outros andares, nos elevadores ou nas escadas do prédio. Cada um contando como foi a reação das pessoas no seu próprio andar...

Eu segui meu caminho normal. Tomei o trem, mas, quando troquei de linha como sempre faço, descobri que a segunda metade do meu trajeto até em casa eu não teria como fazer porque não havia trens. Estavam parados e por isso, mais uma vez, quando desci do trem, a plataforma estava botando pelo ladrão! Gente! Gente! Gente! Era muita gente!

Os painéis eletrônicos, onde mostram informações sobre os trens e os horários estavam pretos! Tudo apagado! Não tinha como saber qual era o próximo trem, se era expresso, se não era...nada! O negócio era descer do trem, sair na plataforma seguir o fluxo. O rio de gente descia pelas escadas porque do andar debaixo sairia um trem pinga-pinga que atenderia a maioria das pessoas. Mas eu só fiquei na plataforma. encostado na parede, esperando o fluxo de gente baixar de alguma forma. Eu sabia que se eu fosse atrás deles, ou eu ficaria de pé na plataforma lotada ou ficaria no meio do caminho da escada, porque entrar no trem, acho que eu só entraria depois de passados 3 ou 4 trens.

Portando, resolvi ficar na plataforma que eu desci do trem. Foi aí que eu dei graças a Deus por entender japonês. O nipotiozinho de repente anunciou no alto-falante que chegariam ainda mais dois trens como o meu, ou seja, com ponto final ali naquela estação mesmo, mas que um terceiro viria logo depois e seguiria o trajeto normal, ou seja, até a minha casa!!! Quem captou a mensagem deu meia volta e começou a formar fila! Eu como estava lá já e captei na hora a msg na hora, fiquei em primeiro da fila. 

Estava eu lá, tranquilão, na frente da fila que já estava quilométrica e comendo meu chocolate "emi-emi", quando de repente...

... as pessoas começam a olhar para as placas e painéis eletrônicos presos no teto e quando eu olhei, estavam balançando lentamente. Era um tremor. E começou a balançar, balançar...até que POW! ...parecia que alguém havia dado um soco na plataforma por baixo ou sei lá, na hora imaginei que era o Godzila que tentou sair no meio de todo mundo na plataforma mas não conseguiu abrir um buraco e deu com a cabeça no solo, mas sem romper ...e nessa hora, todos tiveram a mesma reação. Foi só aquele coro de: "uuuuooou!"

...mas não houve pânico.

Cheguei em casa quase 10 da noite (qdo normalmente chegou umas 19h, 19h30), debaixo de chuva....como se não bastasse...já contactei a minha família no Brasil porque sabia que logo logo iria sair no noticiário no Brasil que "um terremoto abalou O Japão (inteiro!)". Depois, tomei um banho relâmpago, comi qualquer coisa e sentei para escrever este post...

Não quero ver jornal e nem imaginar como devem estar as pessoas em Fukushima. Vou só rezar por elas hoje. Mas ver o jornal, não vou...É isso aí. Não sou muito de diários, mas achei que gostariam de saber como foi nossa segunda-feira em Tóquio, justamente hoje, depois de passado 1 mês do grande terremoto.

Quero ver quem vai dormir bem hoje....

Comentários

  1. Oi Caruso... não consigo nem imaginar como está o clima aí. Só posso dizer que rezo por tdos q estão no Nihon (inclusive minha família). Realmente ficamos preocupados qdo sabemos que aí teve outro dishim... mas não há o q fazer a não ser rezar novamente e esperar por notícias de vcs. Fiquem com Deus e gambate. Acredito q tds estejam aprendendo mto com tdo q está acontecendo.
    Mayumi
    lyciasudo@gmail.com

    ResponderExcluir
  2. Que Deus ajude vocês aí, Caruso. Definitivamente a situação não está fácil, mas temos orado por melhoras.
    Ganbatte kudasai! ^^

    ResponderExcluir
  3. To por aqui. Já sabe!!! Não esquece o que já lhe falei!

    ResponderExcluir
  4. Senpai, que saudade tua, faz anos que não tinah notícias tuas, até semana passada que me disseram que o senhor participou de um programa sobre brasileiros pelo mundo, queria ter visto.

    Creio que a última vez que nos vimos foiu em uma festa de aniversário tua, na epoca eu namorava uma menina chamada Kuzuhara Maiko, e estavamos como uma amiga nossa chamada Kanako.

    Vou memorizar o endereço de teu Blog e depois me manda teus contatos, se der te ligo via Skype, grande abraço e saiba que o senhor sempre me foi uma inspiração.

    Jorge Ferrari

    ResponderExcluir

Postar um comentário