EU, INTÉRPRETE

Muita gente me perguntou /pergunta como foi trabalhar pela FIFA como intérprete da seleção japonesa, como foi estar junto com os jogadores, se eles são maneiros, se deu para viajar e conhecer os lugares onde foram realizados os jogos etc. Imagino que não terei como responder a todas as perguntas - até porque muitas informações são sigilosas - mas tentarei explicar um pouco de como foi minha experiência na Copa das Confederações.



FIFA
Fui contratado pelo COL / FIFA para ser TLO do Japão, um dos times participantes da Copa das Confederações. Cada seleção participante da Copa das Confederações teria o seu próprio TLO  - Team Liaison Officer  - ou em português claro, Coordenador de Atendimento à Equipe. Eu fui escalado para comandar, servir, ajudar, coordenar, trabalhar junto com a equipe japonesa de futebol e servir de elo com qualquer brasileiro que quisesse se dirigir à seleção. Quando digo equipe de futebol, não me refiro apenas aos jogadores, mas sim toda a comissão técnica.

Era meu trabalho servir de intérprete entre todos os membros da delegação e as equipes dos hotéis, dos aeroportos, dos campos de treinamentos etc. Fui intérprete nos encontros de médicos japoneses com médicos brasileiros. Também traduzi as reuniões dos chefs de cozinha, japonês e brasileiro que discutiam sobre o menu do café da manhã, do almoço e do jantar. Traduzi algumas entrevistas dadas pelos jogadores à imprensa brasileira.

Mas além de intérprete, era meu trabalho, por exemplo, providenciar e controlar os horários dos veículos que a delegação iria utilizar no dia seguinte. Também era meu trabalho atualizar quase que de minuto a minuto as atividades da delegação para a FIFA, assim como controlar e reservar os assentos dos voos entre sedes. Enfim, a função de intérprete era apenas uma das minhas tarefas como TLO ou Coordenador de Atendimento à Equipe, mas o principal era cuidar para que tudo corresse bem, saísse da melhor maneira possível, não desse problemas e não destoasse de tudo o que estava previsto e planejado tanto por parte da FIFA, como por parte da delegação japonesa.

PESSOAS E PESSOAS

Em um país inteiro as pessoas são iguais? Em uma sala de aula, as pessoas são iguais? E em uma família? Pois então, com a delegação não poderia ser diferente. Mas no geral, posso dizer que a maioria foi muito, mais muito gente fina. Desde os jogadores, passando pelos médicos e comissão técnica até os dirigentes e presidente e vice da associação japonesa de futebol. Todos me trataram como um membro da delegação. Ao final, já trocávamos piadinhas, ríamos juntos, torcíamos juntos e nos ajudavam uns aos outros sem distinção de japonês, brasileiro ou italiano. Conversei com a maioria dos jogadores, tanto durante os treinos, durante as refeições, já que eu comia junto, nos momentos de descanso etc. Fui com alguns deles até a rua e ao shopping. Sempre conversando como "bons amigos". Eles me perguntavam porque eu falo japonês, perguntavam sobre o Rio de Janeiro, sobre o que fiz no Japão, sobre o Brasil e assim íamos caminhando e papeando...

Tinha claro uns estrelinhas. Mas onde não há? Imagina sendo um jogador de seleção que joga fora do seu país e estando em outro, sendo tratado como popstar com tudo do bom e do melhor. OK, nada que justifique, mas, se no mundo há pessoas e pessoas, com os jogodores, não poderia ser diferente.

SERES HUMANOS

Sem sombra de dúvida, o melhor de ter trabalhado nessa copa foram as pessoas que conheci. Tudo bem que falei com tanta gente, mas tanta gente que não me lembro do nome de todas. Mas algumas delas marcaram, me ajudaram, me foram úteis, se preocuparam comigo, me deram a mão, foram pessoas muito, muito boas para mim. Claro que me identifiquei mais com umas do que com outras e, aquelas com quem me identifiquei, foi realmente divertido e gratificante trabalhar. Era como se tivéssemos estudado juntos durante anos e no final de tudo, era como se estivéssemos nos formando. Foi uma sintonia tão grande durante tão poucos dias, que chega a ser algo estranho, mas ao mesmo tempo, muito bacana! E pensar que no Japão nunca havia conhecido tanta gente como conheci nessa copa. E pensar que no Japão, trabalhei anos com japoneses que se quer fui à casa deles e com brasileiros com que trabalhei alguns poucos dias, me senti totalmente à vontade. Valeu a pena, principalmente, pelos seres humanos que conheci! Obrigado aos colegas do COL e aos contratados e voluntários de Brasília, Recife e BH! Obrigado gente!



LUGARES

Por incrível que possa parecer, Brasília, Recife e Belo Horizonte, eu nunca ,havia estado. Fui em todos estes lugares pura e simplesmente a trabalho. Quero dizer que não tive o menor tempo ou chance de visitar nada. Nem catedral, nem praias, nem porto de galinhas - Andrea está me devendo! - , nem nada. Não dava. Era ligado e disponível 24 horas. Mesmo quando eles não estavam jogando, eu estava à disposição no lobby ou em reunião no escritório ou traduzindo alguma reunião ou fazendo reunião com os motoristas que trabalhariam no dia seguinte ou respondendo emails etc etc.

OS JAPONESES

Foi muito bom trabalhar com eles. Japoneses estes que além da cultura de pensar nos outros e não procurar causar nenhum incômodo, possuem ainda a vivência de terem viajado por outros países, o que os difere e muito dos "outros" japoneses. São pessoas comunicativas, extrovertidas, abertas, flexíveis e cientes de que estão em um país de cultura diferente. Me entendi muito bem com todos eles. Me tratavam com muito respeito e profissionalismo. Eu sei que eu já disse isso, mas não ser tratado com a hieraquia que se vê no Japão em salas de aulas e empresas e por ter sido visto como "mais um" da equipe e ser chamado até de "membro da família" foi realmente gratificante para mim.

A EXPERIÊNCIA

Poder vê-los de perto, conversar como pessoas normais, viajar no mesmo avião, hospedar-me no mesmo hotel, ser útil a eles de alguma forma e estar a todo o tempo bem próximo da seleção japonesa de futebol masculino foi uma experiência que certamente não vou esquecer jamais. Não foi fácil. Agora relembrando, eu mesmo me dou conta do tanto que fiz, em cooperação com muita gente, mas fiz. Eu arriscaria até a dizer que talvez, se tivessem me dito de antemão tudo o que eu fiz, talvez eu ficaria com receio de aceitar na dúvida se eu daria conta do recado ou não. Mas acho que cumpri minha missão. Os japoneses me elogiaram muito, me agradeceram demais e se despediram de mim certos de que eu estarei com eles na Copa do Mundo de 2014. Obrigado a todos, aos que me proporcionaram essa experiência, aos que confiaram em mim, aos que trabalharam comigo, aos meus amigos que torceram por mim e acompanharam minha aventura e em especial à minha família que me apoiou e torceu por mim do começo ao fim. Muito Obrigado. 

Comentários

  1. Você é demais, Júlio! Parabéns! Agora é só esperar a copa de 2014! \õ/

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  2. Caruso, obrigada por dividir com a gente suas experiências durante essa Copa. Deve ter sido um pouco difícil sintetizar em um post tudo o que vivenciou nesses dias ao lado da Seleção Japonesa. Mesmo sem te conhecer, lendo o que você escreveu me fez sentir um orgulho enorme de você! Parabéns!

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  3. Parabéns! Sei da sua competência como cicerone. Uma pessoa gentil como você sem duvida cumpriu a missão om louvor. Maria Isabel Thees.

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  4. Otsukaresama desitta!Ufa, lendo suas funções deu até calafrios de tanta responsabilidade que teve de encarar.Que bom que correu tudo certo.Falta agora fazer uma lista dos pontos positivos e negativos das cidades-sede para que haja tempo das correções.

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  5. Seu blog é muito bacana, muito legal você relatar a sua experiência (o que pode dela).

    Parabéns!

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  6. Excelente post. Muito maneiro toda a experiência vivida...claro que entendemos que algumas coisas são sigilosas e nem tudo é perfeito(até dá pra imaginar quais são os mais "estrelinhas"..rsrs...)..mas no geral acho q foi uma experiência única e edificante. Ano que vem tem mais, tomara que passem aqui pelo RJ também.

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  7. Nossa! E a gente achando que era só traduzir! Deve ter sido super cansativo e intenso, mas dá pra ver que foi muito divertido também. Parabéns! Torço pra você estar lá com eles de novo em 2014. Bjs!

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  8. Parabens Julio! Deve ter sido um trabalhoso cansativo e estressante demais, mas felizmente, entre mortos e feridos, td correu bem, né?!
    Torci muito para o Nihon passar pela Itália. Infelizmente, não teria como ter uma final Brasil e Japão no Maracanã. Quem sabe os dois não se encontram ano que vem?
    Abraço!

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  9. Matéria show.!Foi um prazer fazer parte desta equipe(BRASÍLIA-DF)estamos de braços abertos.

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  10. Que experiência incrível. Espero que vc volte a dar esse suporte ao Japão em 2014.
    Contudo, aí vai uma pergunta que não quer calar: quando jogaram Brasil e Japão, para qual deles vc torceu?

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  11. eu trabalhei aqui em BSB como voluntária! Foi árduo, cansativo, mas muito legal! Realmente a melhor parte são as pessoas, porque meu trabalho (jornalistas mídia escrita) era um porre uheuheueh (muito cansativo). Mas sabe que quem eu mais vi ter crise de estrelismo foram os brasileiros? Que área que fica com vcs? Quero ver se mudo na Copa,e então, talvez nos veremos :)! Mas,realmente, é muito legal, parabéns!

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  12. Olá, faz tempo que acompanho o blog, é muito bom! Têm muitos posts bacanas! Já morei no Japão, e aqui mato um pouco das saudades. Parabéns, pela oportunidade que teve. Torço que volte para a Copa!

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  13. Olá, fui convidado para atuar exatamente na mesma função que a sua no Gran Prix de Futsal, amanhã vou conhecer a seleção que vou trabalhar, Irã, Sérvia, Rússia entre outras. Estou muito empolgado e este seu blog ajudou em MUITO a ter uma ótima noção do desafio bom que me espera. Obrigado!

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