ENTREVISTA EXCLUSIVA・独占インタビュー: SAUDADES DO JAPÃO

     Sempre quando o tema é "estrangeiros no Japão", pensamos naqueles estrangeiros residentes, já praticamente encaixados na categoria de "imigrantes" ou, simplesmente, naqueles que visitam o país a turismo. Mas muita gente se esquece daqueles que já foram turistas algum dia, se transformaram em residentes e deixaram o Japão para trás por algum motivo.

    O Muito Japão foi atrás de alguns destes brasileiros, ou melhor, destas brasileiras, que por terem vivido aqui no Japão por um certo tempo, agora, guardam com carinho, as lembranças do Japão e das experiências que viveram e vivenciaram por aqui. Tenho certeza de que o Japão para estas brasileiras, não é mais um país como outro qualquer do mundo. Isso é o que vocês poderão comprovar a partir de agora nesta entrevista exclusiva.


Nossa primeira entrevistada é Karina Almeida, 43. Mineira de "Beagá"! 


    Karina morou no Japão por mais de 10 anos e, segundo ela mesma, o destino a fez deixar o país. Ela conta que apesar de sempre ter sonhado em morar no Reino Unido, o mesmo destino "colocou" um namorado descendente de japoneses em sua vida e ela acabou aportando em terras nipônicas pela primeira vez em 2004. O namoro acabou terminando logo depois, mas ela havia arranjado um emprego como jornalista, com contrato de 1 ano, renovável por mais 1 ano. Mas o período de permanência rendeu muito mais do que ela mesma esperava e, no final das contas, Karina acabou morando no Japão por quase 12 anos. Ainda no Japão, Karina conheceu seu atual marido, americano e oficial da Marinha e, com a transferência dele, acabaram por deixar o Japão, para morar nos EUA.

Com a nossa segunda convidada, a pernambucana Gisele Freire, 45, não foi muito diferente. 


    O (ex)marido de Gisele, que também não era brasileiro, era australiano, foi transferido da Nova Zelândia - onde o casal morava-, para o Japão. Gisele viveu no Japão de julho de 2006 até novembro de 2008. Depois, a empresa do marido resolveu que manteria no Japão apenas os funcionários japoneses e então, eles se mudaram para a Austrália. 

    Mas havia outro fato em comum entre as brasileiras: ambas eram formadas em jornalismo e a existência de um periódico no Japão, voltado para a comunidade brasileira - em português, obviamente - as ajudou a amenizar a grande diferença cultural que existe entre o Brasil e o Japão. Mas isso não significa que o período de adaptação foi lá as mil maravilhas.

Por falar em jornalismo, nossa terceira entrevistada, também é jornalista! Seu nome, Tania Franco, natural de São Paulo. 

    O motivo que a levou ao Japão pela primeira vez, foi sua ascendência japonesa. Conhecer a terra dos seus antepassados, assimilar ao máximo a cultura e a língua japonesa, além de trabalhar para juntar seu pé de meia e voltar ao Brasil para abrir seu próprio negócio eram seus principais objetivos. Tania morou no Japão em duas fases: de maio de 2005 a dezembro de 2008, em Tóquio. Alguns anos antes, havia morado na província de Aichi, na cidade de Toyota. Trabalhou como operária, em fábrica automotiva. 


ADAPTAÇÃO

    Todas elas contam que, no início, enfrentaram barreiras, umas grandes e outras pequenas, mas que se adaptar ao Japão, dependeu também muito do esforço de cada uma delas. Todas trabalhavam na profissão de jornalista, mas a diferença cultural era notória no dia a dia delas. "Me sentia em outro planeta" resume Karina. Já Gisele é mais direta: "Foi dificílimo (no começo)". Gisele conta ainda que como o marido ficava fora o dia inteiro e ela não falava japonês, ela se sentia muito sozinha. "Eu acabava tendo que sair sozinha e descobrir tudo no peito e na raça", lembra. Mas a entrada no jornal brasileiro, onde conheceu outros conterrâneos, e, inclusive, podia falar português quase que o dia todo, ajudou muito para que tudo ficasse bem mais fácil. "No Japão, descobri que sou muito mais resiliente do que eu imaginava", disse ela.

"O choque cultural Brasil-EUA é

bem menor do que 

o choque Brasil-Japão"



    Depois tiveram que enfrentar uma nova adaptação a um outro país. Karina foi para os EUA e Gisele, para a Austrália e aí foi como vivenciar tudo novo e de novo. "Ao chegar nos EUA, me sentia em um lugar completamente novo, onde eu não sabia praticamente nada", diz Karina. Mesmo assim, para ela, o choque cultural não foi tão grande quanto sair de Belo Horizonte para viver em Tóquio. Para Karina, o fato de os EUA e do Japão serem países ricos, desenvolvidos e serem bem estruturados, eles não têm, segundo ela, "aqueles probleminhas básicos" do Brasil, onde muita coisa não funciona, as ruas são esburacadas, a violência urbana etc e completa: "Isso ajuda bastante na adaptação!".

    Gisele também conta que no início a adaptação ao novo país também não foi fácil, principalmente, depois de ter morado no Japão por cerca de 3 anos. Gisele diz que ela e o marido haviam se acostumado à pontualidade japonesa e que a vida era muito prática no Japão. Gisele também destacou o transporte público japonês como uma das coisas que sentia falta. "O transporte público do Japão é invejável", relembra.

    Tania saiu do Japão e voltou ao Brasil por saudades da família. Ela conta que já estava perfeitamente adaptada ao Japão, mas chegou um momento em que se viu obrigada a decidir se iria viver em Tóquio para sempre, sem a família por perto, ou não. Ela preferiu voltar ao Brasil e conta que no início, lamentações e comparações, faziam parte do dia a dia e exemplifica: "Para mim, bastava algo demorar para ser feito ou solucionado nos meus primeiros meses no Brasil para, sem querer, eu soltar um “ah, mas no Japão eu recebia um cartão novo do banco em dois dias”. Ela também conta que no início, soltar palavras em japonês e cumprimentar as pessoas com uma leve reverência, era normal. Tania diz que levou pelo menos uns 2 anos para se sentir realmente readaptada ao Brasil novamente.

COMPARAÇÕES

    Karina e Gisele também dizem que comparar, elas também o fazem. Gisele, por exemplo, diz que comparava toda vez que tinha que pegar um transporte público. "Acho o povo japonês mais civilizado em alguns momentos, há um respeito pelo coletivo maior, na minha opinião", resume.  



"Amo o Brasil também e 

reconheço as maravilhas 

do nosso país"


    Karina concorda e diz em português claro: "É inevitável". Karina conta que um certo dia, estava conversando como o marido e com a sogra e disse não entender o porquê de nos EUA não haver “takkyuubin” (serviço de entregas). Ela afirma que tenta se livrar das comparações e dá o recado: "No final das contas, eu acho que todo lugar tem coisas boas e ruins. Se você me perguntar qual país é melhor, eu não sei dizer. Amo o Brasil também e reconheço as maravilhas do nosso país!".

JAPÃO NO CORAÇÃO



    Mas as três têm o Japão no coração e sempre lembram de coisas, passagens, momentos e pessoas que conheceram no Japão! Afinal, foram anos e anos, não apenas passeando, mas sim, vivendo, trabalhando, caindo e levantando.

      Karina começa dizendo que foi "incrível e inesquecível" morar no Japão. "Aproveitei bastante! Eu ainda era jovem (rs), solteira, sem filhos, então, passeei a adoidado!", lembra ela. Quando perguntada o que sente falta do Japão, ela se recorda do sabor do pêssego japonês - disse ser "indiscritível - e dos cosméticos japoneses que, segundo ela, "são de excelente qualidade e preço que um simples mortal pode pagar". Mas ela afirma que não é de lamentar e como atualmente vive nos EUA, ela procura focar no que tem de bom no país norte-americano. "A cereja daqui é “um trem”, como diriam meus conterrâneos mineiros!", completa.


"O povo japonês, apesar de ter fama de sério, 

pode ser muito acolhedor às vezes"


    Gisele também lembra sempre da sua vida no Japão com muito carinho. Ela lembra, por exemplo, de quando não precisava dirigir - já que morava em Tóquio - e diz que sente falta da culinária japonesa. A hospitalidade do povo japonês também parece não sair da cabeça dela e afirma: "O povo japonês, apesar de ter fama de sério, pode ser muito acolhedor às vezes". Ela também lembra do Japão com humor, quando fala do banheiro: "Também lembro sempre no inverno, quando preciso ir no banheiro no meio da noite (risos) - saudades dos assentos aquecidos". Ela também destacou boas lembranças da Tokyo Disney, dos amigos, das vitrines com aqueles docinhos embalados um a um e dos mostruários dos restaurantes com as comidas de plástico.



    Tania lembrou de um ponto muito importante: a segurança. Segundo Tania, ela tem muita saudade da sensação de andar segura nas ruas quando caminhava sozinha de madrugada pelas ruas de Tóquio. Ela apresentava um jornal matutino para a comunidade brasileira e todos os dias, pegava no batente ainda de madrugada. "Nunca mais senti nada parecido, mesmo agora vivendo em outro país fora do Brasil", confessou.


    Mas como a própria Karina afirmou, "todo lugar tem coisas boas e ruins", e com o Japão não poderia ser diferente. Gisele destaca, por exemplo, a falta de flexibilidade dos japoneses, em geral, e confessa não sentir saudade disso e enumera mais coisas: "Não sinto falta da burocracia (bem parecida com o Brasil) e do verão em Tóquio que não me agradava. Eu também tinha muita dificuldade em comprar roupa aí no Japão". Tania diz que não sente falta das noites de véspera de Natal e do Dia de Natal no Japão e explica: "As decorações de Natal são lindas em Tóquio (Não me interpretem mal), mas eu nunca senti o mesmo espírito natalino que a gente tem no Brasil (ou mesmo nos Estados Unidos)".  

    Para finalizar, a pergunta que não quer calar foi feita para as nossas 3 convidadas: Vocês morariam no Japão novamente? Veja o que cada uma respondeu!

Karina Almeida

    O mundo dá voltas e a vida é uma caixinha de surpresas! Tenho muita vontade de voltar um dia pra passear! Rever os amigos, comer bastante sushi, sashimi, frutos do mar em geral, “tonkatsu", tomar “umeshu" e bater perna! Especialmente em Tóquio, que é a minha cidade favorita!

    Mas, a princípio, eu não gostaria de voltar a morar no Japão não. Estou adorando morar aqui (EUA), me sinto mais próxima do Brasil e das minhas raízes em vários aspectos. Até o fato da diferença de fuso horário ser bem menor, já me deixa mais próxima da minha família e amigos de lá. 

INSTAGRAM: @alinguadamamae, @meujapao_minhaamerica


Gisele Freire

    Sim e não - (risos). Se eu não tivesse filhos, voltaria. Acho que a vida para as crianças é melhor aqui na Austrália. Mas quero muito voltar com minha filha em breve, especialmente para levá-la para Tokyo Disney.

Tania Franco

    Moraria sim, mas por um período curto de uns 6 meses.  Já fiz muitos planos para visitar o Japão desde que saí do país, mas não consegui ir até agora. Quem sabe essa viagem rola em 2022.  

INSTAGRAM: @taninhafranco



Comentários